quarta-feira, 8 de setembro de 2010

SEI LÁ

"....prato preferido: homens.

Sabes, miúda, o problema é que hoje em dia eles são
perfeitamente dispensáveis. Já não nos sustentam. Não nos
protegem. Não sabem tratar da casa, são em geral péssimos
cozinheiros. Muitas vezes, até somos nós que acabamos por os
sustentar. Por lhes orientar a carreira, lhes arranjar empregos,
lhes dar a mão. — Respirou fundo e deixou cair a sua tirada
final. — Se não fosse pela cama, não precisávamos deles para
nada.


O vibrador é já de si um objecto muito prático, eficaz
e higiénico, podendo ser adquirido em lojas da especialidade.
Este objecto funciona a pilhas, ou, como dizem nuestros hermanos,
con pilas, o que neste contexto até tem graça porque se
transformam muito rapidamente em competentes substitutos
das ditas, com a maior parte das suas vantagens e nenhum dos
seus inconvenientes. Esta maravilha da tecnologia moderna
tem ainda a agradável particularidade de ser facilmente portátil
e de satisfação quase imediata.


Aprendi com eles — respondeu friamente. — Se eles não
fossem tão egoístas no seu comportamento sexual, eu também
não me punha tão à defesa.


"A Teresa continua a sentir‑se a dona da casa e o João uma

espécie de visita de carácter permanente, qual sportinguista ferrenho
que compra um lugar cativo na bancada central.


A Luísa
tinha perdido as ilusões, o que não a impedia de sair sozinha à
noite para voltar a casa acompanhada. Assim, com a facilidade
de quem come um gelado. Sem sentimentalismos nem pretensões
românticas. Uma noite bem passada. Nada de mais. Nem
telefones nem intimidades. Toma lá dá cá,
Sacana do Bernardo. Saltava a cerca mas não
deixava o seu crédito por mãos alheias. Um verdadeiro macho
latino, do género que nós todas odiávamos, mas que no fundo
invejávamos por saber ser tão cabrão e ter uma imagem tão
exemplar. Não basta ser, é preciso parecer. E se se souber parecer
melhor do que se é, o jogo está ganho.


...sem sequer
perceberem que quem os comia era ela, leoa bastarda, pronta
a afiar as unhas e os dentes em carne masculina fresca e bem
temperada. E nem sequer era bonita, ou particularmente bem
feita. Mas tinha garra e fazia exactamente o que queria e como
queria.

...e ficámos ali as duas à conversa
enquanto ela trocava olhares alternadamente gulosos e superiores
com os dois exemplares da mais pura raça lusitana que
nos observavam discretamente.


É fascinante como em
Portugal toda a gente já ouviu falar de toda a gente e há pelo
menos um tio ou um primo em décimo sétimo grau que trabalhou,
andou na escola ou conhece as pessoas que referimos.
Uma verdadeira aldeia, este país à beira‑mar plantado.
Defendia que esta era a verdadeira razão da
demência mental dos portugueses, a consanguinidade. Quando
todos se casam com todos, os cruzamentos consanguíneos são
fatais.


Mas agora que estou outra vez sozinha e saboreio a solidão
como um luxo, e a liberdade como um troféu, não consigo deixar
de pensar que deixei partir o único homem que amei verdadeiramente,
totalmente, com o corpo, a alma, o coração e
a cabeça. Onde estará ele agora?"